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Para todas as mães por aí afora

É em algumas linhas de São Paulo que vemos o que é a maternidade: o belo e sagrado alicerce da existência humana.

comshalom
 

Antes da minha conversão ao catolicismo eu tinha uma relação de amor e ódio com a maternidade.

Antes da minha conversão, a maternidade era uma escolha a ser feita depois de alcançadas uma série de condições: estabilidade financeira, sucesso (nos termos do mundo), uma casa e outras conquistas que poderiam ser ameaçadas em caso de “ameaça” de uma gravidez.

“Vejam!

Isto é o que posso fazer sem filhos!”

Lutei muito contra a doação e o sacrifício que a maternidade exige.

Muitas vezes, nos primeiros momentos como mãe, contei os anos até ter a minha liberdade de volta — primeiro, quando as crianças saíram das fraldas; depois quando foram para a escola; e finalmente quando chegaram à idade adulta e pude voltar à fazer coisas mais importantes, como ter manhãs tranquilas com café que não esfriava e livros que eram lidos até o fim.

Podia me dedicar ao meu trabalho e conseguir promoções.

Eu podia viajar.

Eu poderia desfrutar de um retorno à independência radical que uma vez tive.

Mas, como Christine antes da conversão, eu também experimentei, pela primeira vez na minha vida, um amor que transcendia qualquer um que eu conhecia antes — e por essas crianças, lutei para lidar com meus desejos egoístas.

Eu temia a minha mortalidade, temia que estes anos passassem demasiado depressa, ansiava por dar tudo a estas pequenas criaturas que milagrosamente cresceram dentro do meu ventre e que agora eu segurava nos meus braços.

Intuitivamente, compreendi o vínculo primordial e inegável entre mãe e filho. Mas meus compromissos na época me fizeram ficar do lado dos naturalistas — e pensar que esse vínculo era apenas uma característica evolutiva para a perpetuação da espécie.

Entretanto, eu não podia negar que havia outra coisa que fazia meu papel como mãe parecer mais do que aquilo.

Havia algo sagrado sobre a maternidade que eu simplesmente não conseguia identificar.

Como se sabe, a fé católica já descobriu há muito tempo os desafios da maternidade.

Os aspectos biológicos da maternidade fazem parte de um quadro muito mais complexo.

O amor que as mães sentem pelos seus filhos aponta para um amor infinitamente maior.

Somos chamados a doar-nos e a crescer na santidade.

O nosso dever não é como um contrato que pode ser assumido ou abandonado quando bem entender, mas uma vocação para toda a vida que orienta a nossa existência através destas crianças (estes pequenos santificadores) para Deus.

Nesses tempos seculares, existe o perigo de pensar que as mães (assim como os pais) devem cuidar apenas das necessidades físicas de seus filhos, para o bem da espécie humana (e da a sociedade).

[Para o mundo] trata-se de uma relação predominantemente material, em que as mães trabalham arduamente para sustentar uma família – que por sua vez pode não pensar em muitas formas de retribuir essa doação, além de cartões e cestas de café da manhã no dia das Mães.

Mas a realidade não é assim!

[Sendo a maternidade dotada de] componentes físicos e espirituais, devemos também atender às necessidades espirituais de nossos filhos, estabelecendo um alicerce de moralidade, conhecimento e amor a Deus que os levará ao céu.

Trata-se de um esforço para toda a vida, em que as famílias trabalham lado a lado numa comunidade de fé, esperança e caridade.

As mães, portanto, não são apenas as provedoras da vida física, ou as empregadas de uma casa ingrata.

Somos administradoras das almas, educando nossos filhos em um lar que cultivamos para propiciar a santidade.

Como toda mãe sabe, esta não é uma tarefa simples, fácil ou rápida.

Dura uma vida inteira e requer dedicação e reflexão quase constantes.

De fato, a maternidade e a criação de “uma casa onde a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra”, é um exercício contínuo de virtude heróica, que, como vemos no Catecismo, requer “abnegação, discernimento e autodomínio” (2223).

Abnegação. Discernimento. Autodomínio.

 

Estas não são virtudes que a nossa sociedade laica valoriza.

Nem a maternidade.

Pois, enquanto os aspectos protetores e nutritivos da maternidade são intuitivos (e têm sido durante grande parte da história humana) Merriam-Webster oferece uma definição do verbo ” maternar” como “cuidar ou proteger como mãe”, e Santa Teresa Benedita Da Cruz escreveu: “a alma da mulher é moldada como um abrigo no qual outras almas podem desbrochar”  — nossa cultura atual visa desvendar e redefinir a maternidade, defendendo valores que a maternidade não é: egocentrismo, narcisismo, independência radical e emoção de base, a ponto de as mulheres serem encorajadas não só a abreviar o seu papel maternal e a vida dos seus filhos através do aborto, mas também a propagar tudo isso depois.

O que realmente é tornar- se mãe — a incrível e humilde cooperação com Deus na criação de uma nova vida – foi posto de lado como sendo antiquado, patriarcal e privilegiado.

Somente quando uma mulher está pronta, capaz e disposta é que ela deveria entrar nesta vocação mais sagrada, de acordos com esse mundo baseado unicamente em desejos individuais e sentimentos de segurança pessoal.

Parece que há uma tentativa de tirar Deus de tudo.

Ao todo, parece semelhante às crenças defendidas por mim antes da conversão.

É este lado do debate sobre a vida que faz tanto alvoroço, encorajando as mulheres a não defenderem a sua maternidade, mas a deixá-la de lado – seja de formas pequenas e egoístas, ou na forma irreversível e trágica do aborto.

E tudo isto por uma vitória mundana: uma educação, uma promoção, alguma segurança financeira ou futura.

Para as mães, católicas ou não, que estão no meio das responsabilidades diárias, pode ser difícil não ouvir as mentiras de que a maternidade deve ser baseada na conveniência, de que somos mais do que uma participação biológica da perpetuação das espécies (o que é verdade, mas não da maneira como os secularistas afirmam).

Mesmo como católica convertida (o que me ensinou sobre a dignidade, beleza, e sacralidade desse propósito dado a mim por Deus, que é a vocação como mãe) eu ainda me sinto dividida nesse mundo secular.

Em pé na lavanderia ou ao lado da cama de um filho doente… será que isso é (que eu sou) suficiente?

Ou eu poderia, eu deveria estar fazendo algo mais?

Mas então eu leio São Paulo em sua carta aos Gálatas: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade” (5,23) são os frutos do Espírito, recebidos em uma vida entregue à Nosso Senhor e crucificada de nossas paixões e desejos egoístas.

E isso, eu percebi, descreve a maternidade na sua essência e no melhor – quando pensando em uma mulher desabrochando em sua vocação como mãe, não são essas palavras que usaríamos para descrevê-la?

Mas esses frutos vem apenas para os que desejam ofertar a si mesmos de forma profunda, negar os desejos de sua própria carne, e focar na sua vocação como Deus a planejou, e não como a cultura secular define.

Nessas poucas linhas em Gálatas vemos o que é a maternidade, como o belo e sagrado fundamento da existência humana que é: uma mulher que voluntaria e diariamente imita a Cristo, seja qual for o seu humor, sua disposição interna ou as situações externas naquele dia. E, em consequência, ambos (o interior e o exterior) recebem e cultivam os frutos do Espírito Santo em sua alma e em sua casa, levando as almas a fazerem o mesmo.

Por fim, é mais parecido com o comprometimento que a Chritine católica decidiu ter. É dessa forma que a minha maternidade tem encontrado, assim como Deus planejou, sua feliz realização.

Christine Flynn, traduzido por Maria do Socorro Sobreira


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